Theodor Adorno, um dos representantes mais proeminentes da chamada Teoria Crítica da sociedade, traz como uma das facetas mais relevantes de sua obra a crítica da sociologia tradicional, de matriz positivista. É a partir dela que ele constrói as bases de sua própria abordagem sociológica: uma sociologia crítica, de matriz dialética, que pretende oferecer um conhecimento efetivo a respeito da sociedade, que vá além daquele oferecido pela sociologia tradicional. Uma das diferenças marcantes entre essas duas abordagens é a forma distinta com que cada uma delas concebe a relação entre método e objeto. Segundo Adorno, a sociologia tradicional obedece ao primado do método, enquanto a sociologia crítica, ao primado do objeto. Obedecer ao primado do método significa desenvolver técnicas de investigação segundo o ideal metodológico da linearidade e da simplicidade e, daí, impô-lo indistintamente sobre os objetos da realidade. De alguma forma, antecipando o caminho pelo qual se chega ao conhecimento. Segundo Adorno, esse ideal metodológico, característico da sociologia tradicional, deriva do tipo de metodologia encontrada nas chamadas ciências naturais, que serviram de inspiração para o estabelecimento da sociologia moderna, cuja origem remonta ao positivismo do século XIX. O problema, para ele, reside no fato de que a realidade social possui um caráter contraditório, ou seja, ela não é linear nem simples. Essa discrepância entre método e objeto culmina na impossibilidade da sociologia tradicional de apreender o conteúdo de verdade da sociedade. A imposição desse ideal metodológico à realidade social torna a sociologia tradicional, segundo Adorno, cega às as contradições inerentes à sociedade (inerentes, ao menos, às formações sociais estabelecidas até hoje). Por outro lado, a sociologia crítica proposta por Adorno obedece ao primado do objeto, ou seja, segundo essa abordagem, o método deve ser desenvolvido a partir do objeto, e não imposto a ele de antemão. Desse modo, a metodologia da pesquisa é capaz de apreender as contradições de seu objeto, a fim de desvelá-las e, assim, operar criticamente em relação a elas, penetrando o véu que as encobre. Segundo a abordagem sociológica apresentada por Adorno, a gênese das contradições encontradas nos fenômenos sociais deve ser buscada na totalidade social onde eles têm origem, abrindo assim o caminho para a crítica da sociedade. No contexto latino-americano, no qual transformações recentes apontam para a ameaça a direitos conquistados, aprofundando as já dramáticas contradições sociais existentes no continente, ganha em relevância uma proposta sociológica com a de Theodor Adorno, que se propõe a ir além da mera descrição acrítica da realidade, colocando como interesse último a transformação social, em cujo horizonte está o estabelecimento da sociedade como uma associação livre de homens livres.