Este trabalho tem por objetivo propor uma aproximação interdisciplinar entre os estudos de cultura visual e os estudos museais a partir de um estudo de caso sobre curadoria de exposição e suas implicações políticas para a construção da memória. No primeiro momento, e já definindo os marcos teóricos desta investigação, partiremos do pressuposto de que a questão da memória passa pelo estudo da imagem. Nesse sentido, poderemos fundamentar a abordagem social e histórica ao problema dos usos políticos do passado pelo presente através do fazer cultural da imagem. Trata-se, em outras palavras, de demonstrar a centralidade dos fenômenos de cultural visual nos processos sociais da construção política de dispositivos de memória. Na segunda parte, localizaremos o debate acima proposto no estudo específico do projeto de curadoria da exposição “Frans Post e o Brasil Holandês na coleção do Instituto Ricardo Brennand”, de 2003. A partir da análise tanto do catálogo da exposição quanto do projeto inicial para o espaço expositivo, demonstraremos como tratou-se de instituir uma narrativa que construiu lugares diferentes - e mesmo dicotômicos - para, de um lado, a criação estética de Frans Post, e, de outro, o contexto histórico da vinda dos holandeses ao Brasil no século XVII. Ao segregar a história da arte da história, em geral, o projeto curatorial reproduziu um discurso mimético sobre a imagem que descontextualizou a produção estética de Frans Post, possibilitando a reprodução do discurso fetichizante do olhar europeu sobre o “exótico”. Essa visão a-histórica da imagem da arte terminou por coincidir com o momento de rememoração dos “holandeses no Brasil” e em meio à suspeição dos quadros nacionalistas de uma história do Brasil em fins do século XX e início do XXI.