O encontro entre Rubem Alves e Jacques Lacan revela uma tensão entre o ensinar como ato de desejo e o ensinar como reprodução institucional. Enquanto Alves propõe uma educação que toca o corpo e a alma — marcada pela imaginação, pelo afeto e pela escuta poética — Lacan alerta para os efeitos de um saber que silencia o sujeito e transforma o ensino em técnica. Essa crítica se aprofunda quando Lacan formaliza o Discurso Universitário em seu Seminário 17: O avesso da psicanálise (1992). Nesse discurso, o saber ocupa o lugar de agente, objetificando o outro e produzindo um sujeito barrado, excluído de sua verdade. O aluno, nesse modelo, torna-se porta-voz de um saber já instituído, reproduzindo enunciados sem espaço para criação ou desejo. A verdade do sujeito é eclipsada pela autoridade do saber acadêmico, que se apresenta como neutro, científico e universal. Enquanto Jacques Lacan denuncia os efeitos alienantes do Discurso Universitário — que transforma o saber em instrumento de dominação simbólica — Rubem Alves, na obra A Alegria de Ensinar (1994), propõe uma pedagogia do encantamento, capaz de despertar o desejo de aprender e valorizar o erro, o espanto e a autonomia. Para ele, o professor deve ser um encantador de palavras, alguém que educa o olhar e convida o aluno a sonhar com o que ainda não sabe. Ambos reconhecem que o discurso educativo é também um espaço de formação da subjetividade — seja pela via simbólica, como estrutura que organiza o sujeito, seja pela via poética, como gesto que desperta o sentido da existência. O diálogo entre os autores revela que ensinar é sempre um ato ético, que pode tanto libertar quanto aprisionar, dependendo do lugar que o desejo ocupa na relação com o saber.